Diz-se habitualmente que uma vida não tem valor. Frase tão bela em lábios de homens e mulheres de boa vontade, mas na prática, certos partidos e ideologias não pensam assim. A população está a envelhecer. Daqui a 25 anos metade dos portugueses terão mais de 60 anos. Sabe o que isso significa em matéria de segurança social, de pensões e saúde? Serão menos pessoas a descontar e mais reformas a pagar. Dizem mesmo que será a falência do Estado. Não existirão valências suficientes para acolher e dar dignidade a tantos idosos. Se continuarem os ataques aos Institutos Particulares de Solidariedade Social e começar a haver quebras nos auxílios, os números de lares até poderão diminuir. Com a decadência moral e o esvaziamento dos antigos e perenes valores, corremos sérios riscos de ter como edifício central nas nossas localidades não uma Igreja, mas as Misericórdias ou outras instituições com os seus enormes lares. A situação é preocupante, e apresenta-se já para um futuro próximo… o que está a provocar esta tragédia?
Fizeram de tudo para que o aborto em Portugal fosse aprovado. Ouvimos falar de questões financeiras, de anomalias e deformações do feto, de raptos e violações que justificariam uma despenalização. Mas a maior parte dos abortos não têm sido provocados por essas causas, mas por uma vida de desmandos precoces, traições familiares, razões estéticas, hedonistas e egoístas, etc. E se a questão financeira fosse tão importante como salientaram na época, poderíamos até começar por suspender a despenalização do aborto, uma vez que os mesmos políticos que garantiram a sua aprovação por razões de pobreza das famílias, são os mesmo que estão no poder hoje e que se gabam de termos alcançado grande prosperidade económica. Mas os pobres são usados conforme as suas conveniências, manipulados conforme as suas ideologias. Daqui a 25 anos, se as estatísticas continuarem idênticas ao que têm sido até hoje, cerca de 500 mil crianças terão sido oficialmente abortadas. Morreram 5 vezes mais crianças abortadas em Portugal do que na guerra de extermínio da Síria num mesmo período de tempo. Que falta fazem agora as cerca de 160 mil crianças abortadas desde a aprovação da lei. Elas encheriam as nossas Escolas e Universidades, dariam vida às praças e aldeias, ao interior do país, dariam trabalho a professores, educadores entre tantos outros. No futuro, sustentariam a nossa pátria e fariam descansar os nossos idosos com maior dignidade e rendimentos.[1]
O envelhecimento da população, com o aumento da esperança média de vida por um lado, e a diminuição da população jovem por outro, começa a ter um grave custo. É cada vez menor a arrecadação e são cada vez maiores os gastos. Os idosos necessitarão de maiores cuidados, acolhimento, comparticipação, fisioterapia. Serão mais pessoas a entrar nos hospitais com necessidade de um espaço, cama, fármacos, enfermeiros, médicos, material de suporte de vida, cuidados paliativos dispendiosos. A questão que pomposamente revestem de humanismo e dignidade, tem uma pretensão mais profunda e maquiavélica que é a que realmente importa a muita gente no poder: uma solução económica. Aqueles que tanto falam nos mais fracos e oprimidos, arranjaram uma solução que não vai passar por garantir que mais crianças vejam a luz do dia, mas por apagá-la definitivamente aos idosos. Sendo o fator económico uma das principais causas para a aprovação da eutanásia, disfarçada em questões de humanismo, ela tornar-se-ia intrínseca e profundamente má. Uma vida, não tem valor, mas querem economizá-la. Será isso que se esconde por detrás daquilo a que chamam morte digna?
Precisamos encontrar um lugar para os nossos idosos e doentes na sociedade, e não os declarar simplesmente inúteis. Eles precisam de cuidados, amor e compreensão. O problema social e moral está a pender infelizmente para a solução mais fácil e económica. Se eles não produzem ou se são dispendiosos, eliminam-se, para salvar o país da bancarrota. Mas também entram outros interesses mesquinhos, comprovados pela fuga de muitos idosos dos países onde a eutanásia é permitida e pode ser pedida pelos próprios filhos. Com a prole sedenta de heranças, percebe-se o porquê das fugas… a morte desejada pelos próprios filhos, cujo amor pelos pais, centra-se somente nas coisas materiais. Não pensam eles que serão os próximos. Com filhos assim, compreende-se quem prefira cães e gatos. Sinceramente, a nossa sociedade está doente…
P. José Victorino de Andrade
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[1] Quanto à relação entre o aborto e a eutanásia e a questão económica já é defendida pelo historiador francês Alain Besançon, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. In: ISRAEL, Lucien. Les dangeurs de l’euthanasie. Genève: Éditions des Syrtes, 2002. Quanto às estatísticas das mortes na Síria foram extraídas do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, transmitidas pela https://www.rtp.pt/noticias/mundo/guerra-na-siria-fez-mais-de-340-mil-mortos-desde-2011_n1042508 e do aborto em Portugal, são da PORDATA, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, estatísticas oficiais e certificadas sobre o país. Portanto, longe de serem fantasiosas ou exageradas, neste caso, infelizmente…