Penso que deve haver poucos autores com tanta influência nos acontecimentos do século XXI, mas ao mesmo tempo tão ignorado pelos livros de ciências políticas, como Saul Alinsky. Sobre ele, nas minhas prateleiras de livros de Filosofia e Ciências Políticas, pouco ou quase nada encontro… Nem uma linha nos prestigiosos e grandes autores como Abbagnano, Alain Renault, Gilbert Hottois, Reale e Antiseri, ou mesmo num volumoso manual de História Crítica da Filosofia Moral e Política de vários autores, com quase 800 páginas, não existe qualquer menção ao sinistro personagem. Parece que ele só é conhecido por quem tem de estudá-lo e aplicá-lo no mundo de hoje. Esses, têm amplo acesso à sua doutrinação. E é exatamente pela grande influência que ele tem na prática, que eu não resisto em deixar aqui algumas linhas, que ajudarão muitos leitores a interpretarem e entenderem muitos dos acontecimentos presentes. Não foi por acaso que um artigo da Revista Time atribuiu grande responsabilidade às ideias de Alinsky pela presente guinada ideológica das democracias.[1] Vamos então conhecer um pouquinho melhor esse homem que dedicou a sua obra a Lúcifer, que “para lá da mitologia e da história”, tornou-se, segundo o ativista político, “no primeiro radical conhecido pelo homem a rebelar-se contra o establishment e fê-lo com tal eficácia que ao menos ganhou o seu próprio reino”.[2] O Inferno, esqueceu-se apenas de dizer. E é o inferno na terra, segundo a sua perspetiva e o modelo que partilho com os meus caros leitores, que vamos procurar destrinçar aqui, uma realidade preocupante e comprometedora para a paz e o bem-estar mundial. Um plano em ação e realização, escrito pelo assecla que o planeou e descreveu…
Saul Alinsky publicou a sua obra magna Regras para Radicais: Um guia prático para radicais realistas, em 1971.[3] O legado no papel de um ativismo vivido pelo autor, que visava, segundo o próprio, levar e desenvolver a força revolucionária entre os jovens estudantes e aplicá-la a todos os aspetos da existência, sobretudo morais e materiais. Depois do fracasso do comunismo ortodoxo, procurava assim uma resposta ao desespero e vazio dos homens, sobretudo de uma classe média descontente, e fazer a Revolução avançar, não pelo campo das demagogias ou dos atropelos humanitários, mas de fato, ou seja, na prática. Para manipular as massas, tornava-se necessário seguir certas regras, mas de modo a não assustar o poder vigente, operando aos poucos a mudança, e atuando inicialmente na sombra para não despertar reações. Entretanto, para o ativista, era necessário quebrar a segurança dada pela estabilidade familiar, ou seja, acabar com a família, e esse era um ponto importante para Saul Alinsky, pois só assim viria a revolução que, segundo ele, pretendia tocar (ou trocar) princípios, opiniões, sentimentos e afetos. Por fim, propunha a criação de pequenos movimentos (sobretudo ONGs), de homens e mulheres válidos que lutassem, por exemplo, pelo clima, mas uma vez reunidos em torno de ideais aparentemente inofensivos e úteis, seria possível ter essa mesma massa obediente e disponível para lutar por outras utopias ideológicas e revolucionárias. Agremiações de idealistas que poderiam ir de simples causas solidárias até às associações religiosas, fazendo os jovens acreditarem que a sua ação individual seria capaz de mudar o mundo, tornando-os obedientes e disciplinados às causas propostas, e a outras mais tarde impostas. Este exemplo é do próprio Alinsky: Os jovens começam com um cartaz contra a poluição e a melhor das intenções, e hábeis influenciadores de massas depressa colocam-nos a lutar e a fazer baderna contra o capitalismo poluidor, os poderes instituídos, a moral vigente… Entretanto, segundo ele, para a Revolução seriam necessárias algumas regras, entre elas:[4]
– Iludir o inimigo com o poder que ele pensa que você possui; Fazê-lo sair do campo onde ele possui experiência e viver de acordo com seu próprio livro de regras;
– A ridicularização enquanto a arma mais poderosa do homem;
– A ameaça enquanto algo mais aterrorizante do que a ação em si;
– Pressão permanente sobre a oposição;
– Insistir de tal modo num ponto negativo que tenha de ser reconhecido pelo oponente;
– Por fim, Alinsky incentiva: escolha o alvo, congele-o, personalize-o e polarize-o.
Falsidade, mentira, ameaça, ridicularização, condicionamento das mentes… Um organizador e hábil manipulador de muitas pequenas massas, para influenciar e pressionar socialmente as grandes massas. Pobre Maquiavel, diante de um Saul Alinsky, conforme título curioso de uma obra académica que se debruça sobre o ativista político,[5] sem dúvida um dos mais influentes do nosso século. Segundo Bledsoe, na sua obra sobre Barack Obama, o Presidente era um discípulo de Alinsky, e introduziu muitas das suas doutrinas na sociedade conservadora Norte-Americana.[6] Outras referências facilmente confirmáveis pela Internet dão-nos conta que Hillary Clinton fez a sua tese de 92 páginas sobre o ativista político, chegando mesmo a entrevistá-lo. Não há dúvida que Alinsky influenciou grandes referências políticas vivas. Mas além dessas criaturas doutrinadas por ele, e que começaram nos pequenos laboratórios ideológicos por ele pensados e que visavam através de todo um processo o triunfo da tal Revolução, damo-nos também conta pelo mundo das milhares de ONGs, associações juvenis, agremiações, movimentos populares, e tantas outras manobras de massa, verdadeiras caixas de pandora que ninguém fora do círculo controla, nem se investigam os fundos que lá dentro circulam, alimentados muitas vezes por lobbies poderosos e internacionais. Nem o tipo de doutrinação ideológica que lá dentro realizam. Pensa-se ingenuamente que a juventude está num movimento em prol da educação, da mulher, dos bichinhos, da paz, do meio-ambiente, da educação, da liberdade, e no fundo está a ser manipulada para fazer parte de muitas e pequenas massas, facilmente controladas e manipuladas, capazes de serem fantoches para manifestações e ativismos políticos e sociais, dignos de serem confundidos com os maiores totalitarismos da História. Marionetes, para edificação do reino de Lúcifer…
P. José Victorino de Andrade
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[1] Essay: Radical Saul Alinsky: Prophet of Power to the People». Time. 2 de março de 1970.
[2] “Lest we forget at least an over-the-shoulder acknowledgment to the very first radical: from all our legends, mythology, and history (and who is to know where mythology leaves off and history begins— or which is which), the first radical known to man who rebelled against the establishment and did it so effectively that he at least won his own kingdom —Lucifer” (ALINSKY, Saul. Rules for Radicals: A Practical Primer for Realistic Radicals. New York: Vintage Books, 1989. (Dedicatória no livro, primeiras páginas).
[3] ALINSKY, Saul. Rules for Radicals: A Practical Primer for Realistic Radicals. Op. Cit.
[4] Todo este parágrafo e as regras são uma síntese da mesma obra supra citada.
[5] PHULWANI, Vijay. The Poor Man’s Machiavelli: Saul Alinsky and the Morality of Power. Cornell University: American Political Science Review, Vol. 110, n. 4. November 2016. p. 863-875.
[6] BLEDSOE, Richard W. Can Saul Alinsky Be Saved?: Jesus Christ in the Obama and Post-Obama Era. Eugena: Wipf and Stock publications, 2015. p. 11.
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