Geralmente, os ismos não são sufixos abonatórios em matérias relacionadas aos campos ideológicos, das doenças ou dos vícios: Racismo, fascismo, alcoolismo, tabagismo, laicismo, machismo… será o feminismo uma exceção? Não parece, pois os pilares em que ele está assente, hoje, refletem muito mais uma instrumentalização radical do legítimo empoderamento da mulher em matéria de direitos fundamentais e de igualdade de género do que um uso isento de extremismos e manipulações políticas de partidos encostados às pontas. Sim, porque esse radicalismo é usado por uns e por outros, que buscam como ímanes, atrair uma porção da sociedade descontente por tudo e por nada, com e sem razão. As feministas partem de elementos razoáveis, pertinentes, aumentados ou desvirtuados, mas transformados em ódio aos homens, à ordem social e às instituições. Descriminam-se problemas de todos para salientar alguns. Por exemplo, fala-se muito no cancro de mama, mas o cancro da próstata atinge valores duas vezes mais altos,[1] mas como é de homens, parece pouco interessar. A incidência de funcionários em trabalhos pesados e extremamente desgastantes, como nas minas, pedreiras, obras públicas e privadas, indústrias, etc. é esmagadoramente masculina. Mas poucos se preocupam com eles, pois afinal, são homens. Como também há homens vítimas de violência doméstica, um número não pequeno, e poderia ser muito maior se não fosse a vergonha de eles denunciarem diante de um polícia que a mulher bate neles. Mas não se luta contra a violência doméstica de homens, de idosos e até de crianças. O tema é desviado e radicalizado para os interesses políticos que visam prosélitas para as suas lutas.
O problema foi a capacidade de certas ideologias extremarem a luta de género a ponto de quase criminalizarem uma parte, o homem, instrumentalizando tantas mulheres que lutam legitimamente pelos seus direitos, ou que foram vítima de violência, para acoplarem-nas nas frentes de luta. Aos poucos, essas pobres coitadas tornam-se “idiotas úteis”, * números na arruaça, comentaristas intransigentes nas redes sociais, recebendo para tal uma lavagem cerebral a fim de, conforme relata uma antiga líder do grupo feminista radical Femen, configurarem-se a partidos de extrema esquerda, professarem a irreligião, desalinharem a própria estética e por vezes chegarem até mesmo ao lesbianismo: “É o movimento mais intolerante que já conheci”.[2] Certo pensamento irresponsável vai também penetrando aos poucos na sociedade, muitas vezes veiculado por alguns órgãos de imprensa influenciados por aquilo que chamamos hoje de politicamente correto. Recentemente, uma cronista, Helena Matos, questionou esta forma de jornalismo: “Alguém sabe explicar porque é que a morte de uma criança pelo pai é noticiada como um crime de violência doméstica enquanto a morte da uma criança pela mãe é apresentada como uma tragédia resultante de uma depressão?”.[3] Um crime de uma mulher é tão grave quanto o de um homem, e uma depressão num homem é tão grave quanto numa mulher, e isso é igualdade de género. Mas atualmente há a tendência de uma parte acabar ideologicamente justificada pelo sexo, procurando-se atenuantes, enquanto o outro fica sujeito à sede de sangue, e de tal modo a populaça é instigada, que procura até pender o prato da balança de uma justiça que deveria ser cega e não tomar qualquer partido, por muito barulhenta que seja uma das partes.
Como escutei de uma jovem blogueira que vive na Califórnia, Brittany, num vídeo que viralizou nas redes sociais: “Basicamente, as feministas pensam que as mulheres são oprimidas, mas não há nenhum patriarcado invisível que nos mantenha submissas, nem os homens têm reuniões ultrassecretas para conspirar contra nós”.[4] Fazer justiça aos maus tratos, reivindicar oportunidades de trabalho, direitos, não pode significar aversão ao homem, à família, à maternidade, à sociedade, à religião, à lei… E não são somente estes, os visados pelos conluios ideológicos de género. As feministas começam por ser intolerantes com as próprias mulheres que pensam de modo diferente. Basta, para tal, terem opiniões ou cores políticas diversas.[5] A mesma crónica da Helena Matos citada no parágrafo anterior lembra, por exemplo, um caso que se deu em Portugal com uma mulher descriminada pela sua opinião e relegada ao abandono pelas autointituladas defensoras dos direitos da mulher: “Depois de anos a ouvirmos as candidatas a misses a desejarem a paz no mundo, a Miss Portuguesa 2018, Carla Rodrigues, perdeu o título porque apoiou publicamente Juan Guaidó e fez um apelo à entrada de ajuda humanitária na Venezuela. Quantas feministas se solidarizaram com Carla Rodrigues?”. Dadas as características partidárias das feministas, solidárias com cores rubras que pertencem a alguns regimes totalitaristas e despóticos instalados pelo mundo, nenhuma voz defensora se fez ouvir neste caso concreto. As feministas são as primeiras a descriminar a própria mulher que não tenha o pensamento condicionado pelas suas ideologias. Diante disso, não podemos dizer que elas representam as mulheres da sociedade, mas estão ao serviço de interesses políticos.
Penso que nem feminismo, nem machismo, mas devíamos centrar-nos na pessoa humana, figura tanto jurídica, quanto moral, um pouco mais indicada e abalizada ao referir seres únicos e irrepetíveis na nossa humanidade. A distinção de ambos sexos é saudável, no contexto de uma unidade (pessoa – individuo) na variedade de dois géneros, na multiplicidade das línguas povos e nações, na universalidade de rostos e personalidades. Todos são dignos de amor, compaixão, direitos e deveres, enquanto partícipes da sociedade, cidadãos deste mundo. Crianças, adultos e idosos, homens e mulheres. Cada um na sua especificidade e na sua humanidade, respeitados e estimados. A luta das mulheres não deve ser menos honrosa do que aqueles que lutam pela dignidade e pelo direito à vida dos embriões, das crianças, dos doentes e/ou dos idosos. Pela liberdade religiosa ou pela paz. Todos sofrem, em situação de enfermidade, guerra, fome, perseguição, violência, miséria. Todos somos humanos. Isso é igualdade fundamental, isso é fraternidade real. A verdadeira luta, de um cristão, é pelo homem todo, pela mulher toda, por todos os homens e por todas as mulheres. Nem machismo, nem feminismo… sem fanatismo, proponho retomarmos um humanismo integral!!![6] E esse, não nasceu com qualquer política ou ideologia. Tem as suas raízes no cristianismo…
P. José Victorino de Andrade
Outros artigos sobre o feminismo, e a mulher, em:
Maria e a Maternidade, o feminismo e a irracionalidade
A Bíblia, inspiradora da emancipação e da liberdade da mulher
Para a mulher ser exemplo e exaltada, ela não precisa estar no templo ordenada
A fraudulenta evolução que esconde uma Revolução
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* No sentido dado por Gramsci. Ver o último artigo acima e também https://aportesdaigreja.com/2019/01/16/quem-discrimina-quem/
[1] Dados da EUCAN, Globocan, Direção-Geral de Saúde, Cancer Research UK, Organização Mundial de Saúde.
[2] In: https://pt.aleteia.org/2016/03/21/ex-lider-do-grupo-femen-no-brasil-reafirma-o-feminismo-e-o-movimento-mais-intolerante-que-ja-conheci/
[3] HELENA MATOS. In: https://observador.pt/opiniao/o-arraial-da-luta/
[4] In: https://www.acidigital.com/noticias/por-que-nao-sou-feminista-jovem-surpreende-as-redes-com-resposta-clara-63855
[5] Loc. cit.
[6] No sentido dado por Jacques Maritain e desenvolvido pelas Encíclicas Sociais.
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