Tem acontecido muitos homens ligados à política e a determinadas ideologias identificarem-se como católicos. Talvez o sejam pelo batismo, mas a sua vivência cristã é extremamente parca e a sua adesão às verdades da Fé e à Moral costuma ser irrisória. Na verdade, são batizados de vida pagã, mas fingem-se membros da Igreja para aliciar uma boa fatia do eleitorado. Ora, isto tem levado a muita confusão e até mesmo a certo relativismo, fazendo com que alguns cristãos pensem que se podem aliar a doutrinas utópicas habitualmente contrárias à ética cristã, sobretudo no que consta à vida, e continuarem sem dor de consciência a sua prática religiosa costumeira. Ainda recentemente vimos um político, adepto de utopias que calcam a seus pés liberdades e ceifam ainda hoje vidas humanas, defensor do aborto, da eutanásia e de falsas concepções de família, dar uma entrevista dentro de um espaço sagrado, onde se celebra diariamente a eucaristia, a um meio de comunicação dito católico que ainda recentemente recebeu dos cristãos para a sua atividade de suposta evangelização uma soma avultada dos ofertórios de todas as igrejas em Portugal. É de lamentar que depois faça este desserviço informativo aos próprios católicos, sem se preocupar ao menos em subtrair o Santíssimo do Sacrário, que permaneceu ali, apesar da presença de tão sinistro personagem, apologista das leis mais infames e antinaturais.[1] Incorreu-se em escândalo, amplamente denunciado em blogs e redes sociais. Jesus é forte e perentório perante tal pecado, condenando não só quem o comete (Lc 17, 1-4) mas também aquele por meio do qual vem o escândalo (Mt 18, 7). O Código de Direito Canónico, pelo qual se rege hoje a Igreja, é claro nesta matéria, exigindo até mesmo uma reparação ou rito penitencial, e uma pena canónica justa para os infratores:
Cân. 1210 — No lugar sagrado apenas se admita aquilo que serve para exercer ou promover o culto, a piedade e a religião; e proíbe-se tudo o que seja discordante da santidade do lugar. […]
Cân. 1211 — Os lugares sagrados violam-se com ações gravemente injuriosas neles praticadas com escândalo dos fiéis e, a juízo do Ordinário do lugar, de tal modo graves e contrárias à santidade do lugar que não seja lícito exercer-se neles o culto, enquanto a injúria não for reparada por meio de um rito penitencial segundo as normas dos livros litúrgicos.
Cân. 1376 — Quem profanar uma coisa sagrada, móvel ou imóvel, seja punido com pena justa.
Como adverte Jesus, cuidado com lobos que se aproximam com pele de ovelha (Mt 7, 15). Não basta um político, onde quer que seja e muito menos num espaço sagrado, fazer-se católico mas aprovar práticas e leis contrárias à Lei de Deus. É preciso a adesão à Fé e à Moral; não basta parecer ou dizer que é católico, é preciso ser. Qual seria a minha idoneidade se me fizesse partidário de tal partido político, mas defendesse quase tudo quanto é contrário aos seus princípios? Provavelmente seria expulso, considerado persona non grata. Dizer que sou uma coisa e professar outra roça a insanidade ou… a pretensão de lançar o caos nas consciências através do sincretismo de doutrinas contrárias e contraditórias. E parece-me que há hoje uma estratégia para confundir os católicos. A Nota Doutrinal da Congregação para a Doutrina da Fé sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política (2002)[2] assinada pelo então Cardeal Ratzinger, mais tarde Papa Bento XVI, dá plena liberdade de escolha aos fiéis relativamente aos partidos políticos, desde que estes sejam “compatíveis com a fé e a lei moral natural”, e possuam “uma recta concepção da pessoa”,[3] sem ser possível aos católicos “descer a nenhum compromisso; caso contrário, viriam a faltar o testemunho da fé cristã no mundo e a unidade e coerência interiores dos próprios fiéis” (n. 3). Por isso, políticos com opiniões contrárias àquelas que são defendidas pela Igreja, sobretudo no momento em que fazem uso do espaço sagrado ou travestem-se de meninos de coro, são incoerentes e criam a divisão. Este documento também adverte os católicos para políticas que “visam quebrar a intangibilidade da vida humana”. E chama à responsabilidade todos os políticos cristãos que “têm a ‘clara obrigação de se opor’ a qualquer lei que represente um atentado à vida humana. Para eles, como para todo o católico, vale a impossibilidade de participar em campanhas de opinião em favor de semelhantes leis, não sendo a ninguém consentido apoiá-las com o próprio voto” (n. 4). Deixo-lhes um parágrafo na íntegra, para não ser acusado de manipular a meu bel-prazer os conteúdos do documento, limitando-me a sublinhar, como já fiz, um ponto de extrema importância relativizado por tantos cristãos:
A consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a actuação de um programa político ou de uma só lei, onde os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos com a apresentação de propostas alternativas ou contrárias aos mesmos. Uma vez que a fé constitui como que uma unidade indivisível, não é lógico isolar um só dos seus conteúdos em prejuízo da totalidade da doutrina católica. Não basta o empenho político em favor de um aspecto isolado da doutrina social da Igreja para esgotar a responsabilidade pelo bem comum (n. 4).
Ou seja, não basta um partido ter alguns programas aliciantes e que se aproximam da Doutrina Social da Igreja, se no seu bojo carregam consigo projetos iníquos que ferem “exigências éticas fundamentais e irrenunciáveis”, que dizem “respeito ao bem integral da pessoa”. O Documento sintetiza algumas matérias que não são negociáveis pelos cristãos nem estes podem aceitar que sejam relaxadas pelas leis: “matéria de aborto e de eutanásia”; “direitos do embrião humano”; “promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente e protegida na sua unidade e estabilidade”; “garantia da liberdade de educação, que os pais têm em relação aos próprios filhos – um direito inalienável”, “libertação das vítimas das modernas formas de escravidão (pense-se, por exemplo, na droga e na exploração da prostituição)”; “direito à liberdade religiosa”; “economia ao serviço da pessoa e do bem comum” (cf. n. 4). A mesma Nota Doutrinal termina ainda com um alerta aos cristãos para “associações ou organizações de inspiração católica”, onde se imiscuíram políticos que “em questões éticas fundamentais, exprimem posições contrárias ao ensinamento moral e social da Igreja”, e que estão “em contradição com princípios basilares da consciência cristã” e portanto, “não são compatíveis com a pertença a associações ou organizações que se definem católicas”. Eles não são católicos, e o que o documento da Igreja adverte, é que as instituições também o deixam de ser. Encerra a Nota Doutrinal com chave de ouro, para regozijo e alegria dos filhos de Deus, com a firme rejeição a posições políticas e comportamentos “que se inspiram numa visão utópica que, ao transformar a tradição da fé bíblica numa espécie de profetismo sem Deus, instrumentaliza a mensagem religiosa, orientando a consciência para uma esperança unicamente terrena que anula ou redimensiona a tensão cristã para a vida eterna” (n. 7).
Termino com uma meditação do Papa Francisco, na Capela da Domus Sanctae Marthae muito oportuna para tudo quanto foi escrito, sobre certo modo de ser no mundo de hoje, aqueles a quem o Santo Padre identifica como “os exploradores”, os “comerciantes sem escrúpulos do templo”, que “exploram até o lugar sagrado” de acordo com os seus próprios interesses, comerciais ou ideológicos, transformando a casa do Senhor num covil de ladrões. As pessoas vão ao templo em peregrinação, “para pedir a bênção do Senhor, para fazer um sacrifício” e são “exploradas”, acabam por ali não rezar, nem ter catequese, tornando-se o templo “um covil de ladrões”. Referindo-se a esta realidade, o Papa Francisco convida-nos a uma reflexão: “Não sei se nos fará bem pensar se acontece connosco algo deste género nalgum lugar: isto é utilizar as coisas de Deus para o próprio proveito”.[4] Cuidado, pois, com os políticos aproveitadores das igrejas, que se fazem de católicos, mas frequentam-nas para obter visibilidade e proveito próprio dos seus egos e das suas doutrinas irreligiosas e imorais. O Católico, de consciência bem formada, deve opor-se profeticamente a tudo isto, e não votar em tais partidos. Está em jogo a sua idoneidade e salvação, a vida de inocentes, a liberdade religiosa, a família… Temas demasiado importantes para serem relativizados.
P. José Victorino de Andrade
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[1] http://senzapagare.blogspot.com/2019/05/um-inimigo-da-igreja-na-paroquia-do.html
[2] Ver o documento completo em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20021124_politica_po.html
[3] Sobre a cristã concepção de pessoa e a sua banalização ver o artigo: https://aportesdaigreja.com/2018/02/23/anestesiando-a-pessoa-e-mais-facil-matar/
[4] PAPA FRANCISCO. Meditações matutinas na santa missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae. Três estilos de vida. 29 mai. 2015. In: http://www.osservatoreromano.va/pt/news/tres-estilos-de-vida
Por muito que me pese dizer… por vezes penso que os nossos “Pastores” estão adormecidos, pior; relaxados, medrosos perderam todo o sentido do ser Cristão = seguidor de Jesus Cristo. Deixando o rebanho à mercê de lobos esfomeados de almas incautas. De visita a um lugar familiar na província, regressei hoje um pouco mais triste. Alguns, senão quase todos aqueles que foram exemplo da minha conversão à Igreja de Católica, estão num emaranhado de ideias pagãs e até parece que estão desaprendendo tudo o que lhes foi transmitido. A Santa Missa de Domingo de Pentecostes, trocada por um teatrinho mediocre grupinho de uma elite de senhoras e senhores de coro, que agora estão a descobrir uma educação dita Universitária, tudo feito na maior naturalidade que até doi. Não há um pastor atento que admoeste do altar, qual a prioridade de um Cristão? Mas com exemplos de tamanho calibre por parte de uma sociedade que se diz Católica e “muito moderna” vale tudo.
O meu coração lá se aqueceu junto da Virgem em Fátima. Mais emocionada fiquei na bênção das viaturas das 17 horas. Estava um bom grupo de pessoas, quero crer, cristãos, desejosos de bênçãos do céu, para caminhar nestes caminhos de vida tão cheios de lágrimas.
Obrigada senhor P. José de Andrade, não deixe de denunciar o que vai mal. São ainda muitos cristãos que oram pelos sacerdotes, esperando e confiando em Jesus.
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