Será quase impossível encontrar alguém que não anseie e procure a felicidade. Esta demanda foi posta por Deus no coração de todos os homens, que à semelhança de Santo Agostinho, apenas sossegam quando O encontram e n’Ele “repousam”[1]. O Catecismo da Igreja Católica começa com esta temática, lembrando que o homem é capaz de Deus. Esta insaciabilidade leva não só ao desejo de uma realização pessoal, no âmbito da vocação específica de cada um, como da comunidade, na qual a pessoa vive e interage.
Ensina o Compêndio de Doutrina Social da Igreja que “o bem comum da sociedade não é um fim isolado em si mesmo; ele tem valor somente em referência à obtenção dos fins últimos da pessoa e ao bem comum universal de toda a criação” (n. 170). A realização pessoal nunca se faz de um modo isolado, mas num contexto, na sociedade. A felicidade terrena será sempre relativa, mas a busca incessante estará por detrás de tudo aquilo que o homem opera. “É impossível que a criatura racional dê um só passo voluntário que não esteja encaminhado, de uma ou outra forma, para a sua própria felicidade, já que, […] todo agente racional obra por um fim, que coincide com um bem (aparente ou real) e, pelo mesmo, conduza à felicidade”.[2] De acordo com São Tomás, todos desejam alcançar a beatitude, e apesar de diferirem neste mundo quanto aos meios – riquezas, prazeres, entre outros – o fim, ainda que implicitamente, será sempre o Sumo Bem, fim último ao qual tendem todos os homens.[3] Ora, este nem pode ser outro que o “Bem infinito, que sacia por completo o apetite da criatura racional[…]. Bem perfeito e absoluto, que exclui todo o mal e enche e satisfaz todos os desejos do coração humano”.[4]
O progresso, na sua integridade e verdade, de todos os homens e do homem todo, parte de uma herança e de um profundo desejo, legítimo e bom no homem. O desejo de absoluto. Um chamamento a aperfeiçoar este mundo material e a sua própria vida pessoal, social e espiritual. Numa feliz expressão reaproveitada por Bento XVI na Caritas in Veritate extraída da Populorum Progressio: “A vocação ao progresso impele os homens…” (n. 18) – e relembrava mesmo que nessa Encíclica “Paulo VI quis dizer-nos, antes de mais nada, que o progresso é, na sua origem e na sua essência, uma vocação” (n. 16).
P. José Victorino de Andrade
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[1] Ver Confissões I, 1.
[2] “Es imposible que la criatura racional dé uno solo paso voluntario que no vaya encaminado, en una forma o en otra, a su propia felicidad, ya que, […] todo agente racional obra por un fin, que coincide con un bien (aparente o real) y, por lo mismo, conduce a la felicidad”. (ROYO MARÍN, Antonio. Teología moral para seglares. 7a. ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2007. p. 22. Vol. I. Tradução minha).
[3] Cf. S. Th. I-II, q. 1. a. 7.
[4] “No es ni puede ser otro que el mismo Dios, Bien infinito, que sacia por completo el apetito de la criatura racional, sin que nada absolutamente pueda desear fuera de él. Es el Bien perfecto y absoluto, que excluye todo mal y llena y satisface todos los deseos del corazón humano”. ROYO MARÍN, Op. Cit., p. 23. Tradução minha).
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