A solidariedade social praticada pelo Estado, ou por várias instituições a ele vinculadas, é tendente a ser mais eficaz do que a dos indivíduos, pois a coletividade tem uma maior capacidade e abrangência do que a iniciativa individual. Porém, a História e as boas experiências têm confirmado que a liberdade de associação e a iniciativa privada, ao conjugar as forças daqueles que unidos pelos mesmos ideais e o amor aos mais pobres e necessitados praticam a caridade e dedicam-se às obras de misericórdia, longe de fazer oposição aos potentados, soma iniciativas concretas para a edificação de uma sociedade mais justa e equitativa. Conjugando-se o pouco de muitos, as instituições públicas e privadas, o poder temporal e espiritual, potencia-se o bem de todos, o bem comum.
Nesse sentido, os governos podem contar com uma colaboração ativa e efetiva dos cristãos “com a transparência da sua ação e a fidelidade ao dever de testemunhar o amor” conforme a Deus Caritas Est. Aliás, esta Encíclica congratulava-se por um esforço comum, neste sentido, e por terem nascido e desenvolvido “numerosas formas de colaboração entre as estruturas estatais e as eclesiais, que se revelaram frutuosas” (n. 30, b) aumentando assim a presença da solidariedade entre os homens. O poder temporal quando visa os absolutismos e, qual leviatã Hobbesiano, pesado e açambarcador, tiranizar e controlar a iniciativa das associações e instituições que colocam em prática um amor traduzido em atos concretos, sem distinção de quem seja o próximo, corrói os alicerces de uma estrutura social pré-existente e forte. As cores políticas ou até mesmo os regimes passam, a caridade cristã tem permanecido e só tem perecido onde encontra regimes confessionais do ateísmo e do totalitarismo, teimando mesmo assim, muitas vezes até ao martírio, em levar o homem todo e todos os homens a uma condição digna, amada, imagem de Deus.
O Estado deve abrir-se à colaboração da Igreja e respeitar as Instituições Particulares de Solidariedade Social de inspiração cristã não só para não parecer que existe uma guerra ideológica, mas na medidas em que estas permanecem dispostas a uma íntima e laboriosa ajuda, participando assim da edificação e manutenção de valores comuns que revelam uma unidade na multiplicidade das obras: o desejo de um verdadeiro progresso, palpável, concreto, que vise o bem comum e a felicidade terrena, tanto quanto possível, sem negligenciar o fim último do homem e a sua integridade, que envolve não só a matéria, como também o espírito, portanto, a bem-aventurança e a passagem de uma felicidade relativa para uma felicidade absoluta. Juntos edificaremos o Reino.
Pe. José Victorino de Andrade
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