A caridade cristã resplandece discreta e eficazmente na sociedade, não como qualquer filantropismo, vazio, visível e volátil, mas verdadeiro amor, ágape, que vem de Deus e inspira a ação concreta, o amor ao próximo, a verdadeira caridade porque Caridade na Verdade. Não se trata de uma verdade qualquer. Ela possui um rosto, Cristo. É Ele quem “leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e a salvação do mundo”[1]. Proclamar e viver este Amor e esta Verdade é possibilidade de renovar o mundo, revitalizar as nações e dar um sentido à peregrinação dos homens neste mundo. Mas ela precisa de homens e mulheres comprometidos, que encontraram o Amor maior das suas vidas. É a partir de um Deus Amor (Deus Caritas Est) que se reconhece a verdade dos acontecimentos e dos povos aportando-lhes a Caridade na Verdade (Caritas in Veritate).
“No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.[2] Parte daqui, sem dúvida nenhuma, a missão. Não se trata de impingir ao outro um produto, visar qualquer lucro ou interesse, mas de comunicar uma experiência de Fé, a fim de comunicar uma grande novidade, partilhar a felicidade de uma vida com Deus, estender a caridade, a compaixão e a misericórdia características das palavras e gestos de Jesus, e procurar iluminar as grandes questões da vida e da existência. É a caridade que o cristão, como outro Cristo (Christianus alter Christus) está especialmente chamado a exercer e a viver a fim de influenciar positivamente a nossa sociedade.
Lembra-nos o Papa Francisco que a Igreja é missionária e “brota inevitavelmente dessa natureza a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove” (Evangelii Gaudium, n. 179). Se a penetração do Evangelho na sociedade, de modo a impregnar de valores cristãos a vida social, política e económica não é mais eficaz, deve-se aos cristãos ficarem muitas vezes circunscritos às tarefas na comunidade (n. 102). Por outro lado, o Pontífice reconhece que falta também aos governantes e aos poderes económicos um alargamento de perspetivas para não se encerrarem à transcendência e aos valores evangélicos (n. 205). Cabe a todos os cristãos um empenho para ser sinal de autenticidade da experiência de Deus e testemunhas da Caridade no mundo de hoje, e lembrar o Estado democrático e livre que, no atual pluralismo, o exercício das obras de misericórdia deve envolver todos os poderes – temporal e espiritual – e todos os homens, em vista daquele bem que é o de todos: o Bem Comum.
Pe. José Victorino de Andrade
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[1] BENTO XVI. A revolução de Deus. Prior Velho: Paulinas, 2005. p. 48.
[2] BENTO XVI. Deus caritas est, n. 1. In: AAS 98 (2006), p. 217-218.
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