São tantas as casas em que se pode escutar o contentamento de múltiplas e animadas vozes de familiares e amigos. Pelo tilintar das louças e copos que se misturam entre risos e brincadeiras dos mais novos percebe-se ser um dia especial, preenchido por animadas tertúlias em torno de uma pantagruélica comezaina. Celebra-se uma gulosa festividade recheada de bolos e doces após uma refeição bem regada a vinho e finalizada com o fumo do tabaco. Saciado o apetite, aborrecem-se os convivas com as habituais divergências de opinião e aos poucos todos estão em torno da televisão. O tempo custa a passar para as crianças e os mais idosos espreitam os relógios em vista do tempo que foge irreparavelmente. Eis mais uma consoada de Natal entre tantas outras!
A ansiedade das crianças, o frio, o álcool ingerido pelos condutores, a fadiga da dona de casa e a louça por lavar… somam-se as desculpas para não sair de casa antes da meia-noite. A missa é tradição de outros tempos, e como todos sabem, a tradição já não é o que era. Apenas alguns poucos insistem na tal missa do galo, que tão pouco se entende o nome ou que cante a essa hora. Com outros rituais tão variados quanto os volumes e coloridos dos embrulhos, impostos por um homem vestido de vermelho e com barbas, de uma cultura tão distante como estranha que certamente não proveio da Lapônia, começam a abrir-se os presentes. As crianças são as primeiras a desbaratar os lacinhos enquanto um ou outro provecto aproveita os papeis, não para reciclar os maços, mas os presentes ou pelo menos os embrulhos. E enquanto as crianças não se enfadam com os novos brinquedos, tempo ainda para um chazinho, água das pedras ou antiácido. É preciso estar em forma para aquilo que virá no dia seguinte. É a véspera e haja estômago para o dia… O álcool deixou de ser desculpa para sair, o motorista parece bem e afinal os polícias também devem estar com a família. As crianças precisam descansar. Todos regressam às suas casas ao som dos beijinhos, carregando sacos de hipocrisia e consumismo.
E o tal aniversariante de que nos fala o título? Ah, é verdade… é o “menino Jesus”, tão ausente deste artigo quanto de numerosas famílias que celebram a Sua natividade sem pretender a Sua centralidade. É o aniversário mais celebrado, e talvez o aniversariante mais olvidado, naquela noite em que recordamos o nascimento do Salvador num pobre presépio, o maior presente que a humanidade poderia ter recebido, em que mais do que o dom material, ele quer a nossa caridade e entrega espiritual. Possa o Filho de Deus e Príncipe da Paz nascer no coração de tantas famílias, e mais do que no presépio, ser a figura central das nossas celebrações. Parece óbvio dizer isto, mas neste aniversário, lembremo-nos do aniversariante. Só Jesus no Natal pode ser o Natal de Jesus.
Pe. José Victorino de Andrade
In: http://folhadodomingo.pt/ (opinião)
Nesta época do Natal só se fala do Pai Natal, o homem de barbas brancas, fato vermelho e saco de prendas às costas ou puxado num carro por renas. De S. Nicolau ou do Deus Menino, que é o centro desta festividade, na Comunicação Social, quase não se ouve falar. É pena que tal aconteça neste nosso País, que se diz católico. É um meu desabafo. Feliz Natal, com a presença de Deus Menino nos nossos corações.
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