Porque devemos batizar desde cedo as crianças

pia batismal“Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). O mandato de Jesus é claro e não é excludente, nem em termos de povos e nações, como tão pouco em limite de idade ou qualquer outra condição. O próprio Senhor quis sujeitar-se voluntariamente ao batismo, dando o exemplo, santificando as águas de toda a terra e indicando o modo como ele deveria ser feito. Ao morrer na cruz, “Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. De facto, Ele já tinha falado da sua paixão, que ia sofrer em Jerusalém, como dum ‘batismo’ com que devia ser batizado. O sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado são símbolos do Batismo e da Eucaristia, sacramentos da vida nova” (CEC 1225). Entretanto, há quem queira excluir as crianças do sacramento do Batismo, quando ainda não têm o uso da razão, quer por motivos religiosos, tal como pregam alguns protestantes e algumas seitas, quer por razões ideológicas ou pertencentes a certo relativismo religioso hodierno. Ora, trata-se de um grave erro que não só pode colocar em causa a salvação eterna do infante, uma vez que o próprio Senhor afirma a necessidade de se nascer da água e do Espírito para poder entrar no Reino de Deus (Jo 3, 5), como priva a criança das graças próprias ao sacramento do Batismo tão necessárias ao seu pleno desenvolvimento, uma vez que aí lhe são infusas as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as cardeais (Temperança, Fortaleza, Prudência, Justiça), e priva-a, sobretudo, da presença de Deus, como templos que somos. Mas analisemos cada um destes desafios que nos são colocados nos nossos dias e aos quais convém dar uma resposta.

Aqueles que dizem nada encontrar nas Escrituras que comprove a necessidade do Batismo para as crianças, revelam um sério desconhecimento ou uma preocupante manipulação da verdade contida no Novo Testamento e relativa à história do cristianismo. São evidentes as palavras e o exemplo de Jesus. Se Ele que não precisava do batismo de conversão de João, quis sujeitar-se a ele, dando-nos o exemplo, quanto mais nós, concebidos no pecado, precisamos desse banho regenerador, esse novo nascimento, tão necessário, como dizia o Senhor a Nicodemos, para a salvação eterna (Jo 3, 5). O mandato é claro (Mt 28, 19). Mas ainda que a Cristologia e a Soteriologia não iluminassem a teologia sacramental, acerca da necessidade do Batismo para todos, o testemunho dos Apóstolos não deixa margem para qualquer dúvida. Propôs Pedro, após o Pentecostes: “Convertei-vos e peça cada um o batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo. Na verdade, a promessa de Deus é para vós, para os vossos filhos, assim como para todos os que estão longe: para todos os que o Senhor nosso Deus quiser chamar” (At 2, 38-39). E se Deus quer, quem somos nós para limitar a sua graça. Receberam o Batismo não só estes Israelitas, mas também os pagãos. Cornélio, “com os seus parentes e amigos íntimos” foram os primeiros pagãos a receberem o batismo conforme ordenado por Pedro (At 10, 48).  Não parece ficar clara qualquer exclusão, uma vez que é difícil imaginar uma família, sobretudo naqueles tempos, sem a sua vasta prole. E a promessa, segundo São Pedro, era para eles e para os filhos (At 2, 39). Também Paulo e Silas, recebidos pelo carcereiro, “anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se batizou, ele e todos os seus (At 16, 32-34). Casas inteiras receberam o Batismo, no tempo dos Apóstolos. Prática também ela explicitamente atestada desde o século II, conforme o Catecismo da Igreja Católica (1252).

Mas o problema de atrasar o Batismo ou negá-lo aos infantes não pertence só a alguns protestantes, mas também a uma nova categoria de católicos relativistas, relaxados e relapsos em matéria de Fé, que repetem uma argumentação tão perniciosa quão falaciosa ao afirmar que mais tarde a criança pode escolher se quer ser batizada ou não. Incoerente, em primeiro lugar, porque não se nega aos pequenos todo o bem que se possa fazer-lhes desde cedo: Dá-se banho, ou ordena-se a higiene, pois não é um questão de escolha se quer ser limpo ou sujo; Dá-se instrução e ordena-se a frequência a uma instituição de ensino, pois não é uma questão de opção futura ser educado e instruído. O melhor que podemos fazer pelos mais novos, começamos desde cedo, sem perguntar-lhes ou deixar ao critério dos seus caprichos. Em segundo lugar, não se nega a cidadania a uma criança que nasceu em determinada nação. Ela recebe um nome, um género, uma nacionalidade, desde muito cedo. Uma insanidade seria se disséssemos que não iríamos impor uma identidade para ela mais tarde escolher. Se o adulto um dia quiser mudar de nome, de país, identidade ou até género, é com ele, mas não se nega toda uma carga identitária e hereditária, deixando a pessoa neutra e alheia a tudo para depois escolher se quer ser da cultura oriental ou ocidental, Árabe, Hindu ou Esquimó, homem ou mulher, humano ou bicho. Assim, também a religião faz parte da identidade da família e dos antepassados em que a criança nasce, tal como há uma cultura e uma língua próprias, transmitidas de geração em geração. Em terceiro lugar, a argumentação que afirma que a criança pode um dia escolher se quer ser católica é falsa, porque não se dá liberdade para escolher algo que não foi possível conhecer. Ninguém opta por uma profissão para a qual não recebeu informação e formação. Ninguém opta por uma religião que permaneceu desconhecida e omissa. Até porque negar o batismo é negar a própria e livre escolha, pois se um dia a pessoa quiser fazer a primeira comunhão, receber o perdão na confissão, ou qualquer outro sacramento, não pode, é incapaz, pois o batismo é a porta de todos os outros sacramentos, e sem ele, nega-se a ordinária possibilidade ao adulto de, por exemplo, casar-se religiosamente. Até para a opção futura ser livre e não condicionada pela impossibilidade e pela ignorância, a criança precisa ser batizada e religiosamente formada.

P. José Victorino de Andrade

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Ver também o artigo acerca da escolha dos padrinhos para o Batismo das Crianças aqui.

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