Católicos em cima de muros, Igreja em apuros

A ceia e judas

Em cima do muro. Equilibrando-se, tentando não pender para um lado ou para o outro, assim procuram percorrer a vida muitos que se dizem Católicos. Praticam quando podem, isto é, quando não colocam outros compromissos sociais acima de Deus; rezam pouco, pois o mau uso do tempo não lhes permite mais; conhecem a moral e a doutrina que lhes interessa, pois não querem aprofundar o conhecimento e a vivência da Fé; confessam-se esporadicamente, mas só daquilo que os preocupa e o mal que os outros lhes fazem, pois eles mesmos não se consideram pecadores; devotos interesseiros, que fazem promessas e peregrinações, rezas e intenções, mas só na hora das aflições. Ouvi certa vez o sermão de um sábio sacerdote que contava a interessante estória de um desses cristãos que gostava de viver em cima do muro. Sai daí – pediam os anjos – vem para este lado, do bem, íntegro, sério, religioso e comprometido. Do outro lado, os diabos nada diziam e pareciam até comprazidos naquela indecisão. Pergunta então o mau cristão aos peçonhentos: Porque os anjos insistem tanto que eu opte pelo lado do bem, e os infernos não fazem o mesmo? – Uma dessas horrendas criaturas aponta então com a sua pata para uma placa ali pendurada desde sempre, e onde estava escrito: o muro é propriedade do demônio

O muro não é um lugar neutro. Como não existe um destino eterno neutro, mas a consequência das nossas opções de uma vida verdadeiramente com Deus, ou não. E se o conto do homem em cima do muro parece irreal, as palavras da Escritura não o são e jamais passarão: “Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha boca. […] Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele.’” (Ap 3, 15-16, 19-20). É, pois, um misericordioso apelo à conversão e ao zelo pelas coisas da Fé, a deixar as portas da nossa vida e da nossa alma escancaradas, e não semiabertas, a Cristo, como pedia vigorosamente São João Paulo II no início do seu pontificado. Recentemente, no dia da canonização de sete novos santos, o Papa Francisco destacou uma característica comum a todos eles “que é o fato de terem sabido amar Jesus com radicalidade. Jesus não se conforma com receber pouco. ‘Jesus é radical. Ele dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração indiviso. A Ele, que nos oferece a vida eterna, não podemos dar um pouco do nosso tempo restante. Jesus não se conforma com uma ‘percentagem de amor’: não podemos amá-lo a vinte, cinquenta ou sessenta por cento. Ou tudo ou nada”.[1]

Um católico que o é, deve procurar aprofundar-se na doutrina, pois não se pode amar a Deus sem conhecê-Lo, como seria impossível gostar de alguém que raramente procuramos e sobre o qual pouco ou quase nada sabemos. Podemos até simpatizar, mas dificilmente chegaremos à amizade, e muito menos à intimidade. Um católico não praticante é como um ciclista não pedalante, ou seja, não é. Como não é estudante aquele que não estuda, nem Universitário quem não participa das aulas, nem desportista quem não se exercita. É uma contradição, uma incongruência, uma falsidade. Não existe uma religião no mundo sem a prática, seja ela qual for, seja onde for. Historicamente, não existiu, e provavelmente nunca existirá. Não existem católicos virtuais, como não se pratica simplesmente nas redes sociais. O católico precisa ser, não basta parecer, nem se dizer. O relativismo em matéria de incoerência relativamente àquilo que se professa, seja nos ministros ordenados, seja nos leigos, tem causado um número demasiadamente grande de escândalos. Os católicos em cima de muros têm deixado a Igreja em apuros.  Pelo contrário, os que procuram sinceramente conhecer a Deus, começam a amá-Lo, e amando-O, a Servi-Lo. E para isto o homem foi criado, é a sua finalidade, conhecer, amar e servir a Deus e com isso obter a salvação eterna. Católicos, comprometam-se!!! Não foram criados para ficar em cima de muros… pois agora sabem a quem eles pertencem.

P. José Victorino de Andrade

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[1]In: ACI Digital. Papa Francisco canonizou Paulo VI, Dom Óscar Romero e outros cinco novos santos. Disponível em: https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-canonizou-paulo-vi-dom-oscar-romero-e-outros-cinco-novos-santos-85813

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