Recentemente, assistia a um experimentado comentarista televisivo que se queixava da grande visibilidade dada a certa personagem política extremista, transparecendo um favorecimento e parcialidade da maioria dos repórteres na visibilidade que lhe era dada, notando que a um “ai” da dita pessoa, os microfones e as atenções viravam-se logo para ela.[1] Como uma cassete, a música da dita cuja é pouco variada e até de fraca qualidade, gira o lado e toca o mesmo, revelando que a parca carreira artística fora transposta para a política, ou não fosse a visibilidade que lhe era garantida pelos seus fiéis entrevistadores. O seu partido aproveita-se hoje da grande influência e presença de filosofias políticas que iludem e doutrinam jovens universitários radicais e idealistas no seu ambiente educativo, colhendo posteriormente os louros de grande número de jornalistas formados, influenciados por estas utopias tão presentes na educação laica, tão parcial em matéria religiosa como na política. Uma educação plural e livre deveria ser liberta também de extremismos e condicionalismos ideológicos, mas esse argumento só vale para as religiões, que dificilmente entram nas Universidades públicas, ao contrário das políticas e políticos radicais. Também eu estranhei esta presença de extremistas nas Universidades por onde andei. A voz sapiencial de uma estudante anciã dizia-me que uma maioria desperta para a política aderindo a radicalismos, depois entra no mercado de trabalho, contrai matrimónio, e tanto a família como a responsabilidade deixam-no mais moderado… mais tarde talvez morra como um conservador. Faz-me lembrar certa senhora de proveniência holandesa que me dizia que a igreja protestante era a melhor para se viver, pois não era muito exigente em matéria moral, mas sem dúvida a católica era a melhor para se morrer… Parece que na política há um fenómeno semelhante.
Não admira que um partido insípido cresça, na medida da importância que a imprensa lhe concede. Não é favorecido pelo savoir faire, capacidade de liderança, de governo, formação dos seus intervenientes, coerência, programa político, mas tem importância na medida em que lhe dão importância. Trata-se de uma política feita de visibilidade, e não de governabilidade. A imagem vale mais que o conteúdo, e isto é uma pobre resposta coerente com uma geração que passou a valorizar mais a imagem que o texto, a prevalência da aparência sobre o conteúdo. Uma mais valia para políticas de fachadas bonitas, proveniências duvidosas, e por vezes, ideais podres… Não adianta revelar conteúdos políticos, mas uma bela imagem, que toque nos sentimentos da população. Lembro-me de um político recente, num país de língua portuguesa, que fez os seus cartazes com lindos cães e gatos, e a frase: Os políticos tais, amigos dos animais. E teve uma larga margem de votos. Ganharam um lugar na assembleia da sua cidade! Os amantes da bicharada votaram neles. As suas políticas ou qualidades morais eram pouco conhecidas, ou pouco importavam. A fotografia dos bichinhos ternurentos triunfava sobre a lógica e até a própria política. Na história recente, a imagem e visibilidade de um político prevalece e dá margem para votos. Há uns anos atrás, em Portugal, revelaram os bastidores de certo debate político entre dois oponentes. O debate já tinha começado nos camarins: cada um dos candidatos tinha um lado do rosto que o favorecia mais, e ambos insistiam em ficar virados desse lado para as câmeras de televisão. E se a imagem é tão importante, quebrar com essa imagem, física ou moral, também importa.
Nesta lógica, surge uma política edificada sobre princípios e argumentos que visam desdourar a imagem do oponente, de instituições e pessoas, através de caricaturas e calúnias, o que enfraquece a democracia, na opinião do Papa Francisco. Segundo o Pontífice, os governantes que aprendem a manipular os meios de comunicação, aproveitando o tempo que lhes é garantido para caluniar os oponentes, ou a constante procura e avidez por escândalos, tem sido responsável por ditaduras e perseguições da história recente e antiga: “tantas pessoas destruídas, em tantos países destruídos, em tantas ditaduras com ‘luvas brancas'”.[2] A Igreja Católica não propugna por nenhum partido político, mas dentro da sua missão profética, tem a obrigação de chamar a atenção para erros e desvios que comprometem a dignidade humana e a liberdade dos povos. Conforme o Magistério, “não cabe à Igreja formular soluções concretas – e muito menos soluções únicas – para questões temporais, que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um, embora seja seu direito e dever pronunciar juízos morais sobre realidades temporais, quando a fé ou a lei moral o exijam”.[3] Católicos, conheçam os programas políticos, e não se deixem levar por aparências, ilusões, fachadas ou visibilidades! Comprometam-se, não com uma imagem, mas com um programa e uma pessoa que os represente e respeite a vida e a dignidade do homem! Uma doutrina dotada de potência, a Verdade, não coabita com a aparência e a falsidade. Queremos políticos de verdade e não artistas da falsidade…
P. José Victorino de Andrade
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[1]http://www.tvi24.iol.pt/videos/opiniao/estado-nao-tem-qualidade-no-exercicio-das-suas-funcoes/5b5638020cf282952f033fdd
[2] Homília na Casa Santa Marta, 18 junho 2018. In: https://www.vaticannews.va/pt/papa-francisco/missa-santa-marta/2018-06/papa-francisco-missa-santa-marta-calunia-comunicacao-ditadura.html
[3] RATZINGER, Joseph. NOTA DOUTRINAL sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política. In: