Segundo a carta de S. João, a correspondência do Homem ao amor de Deus deve ser realizada em obras e verdade. “Por isto conheceremos que somos da verdade e, na sua presença, sentir-se-á tranquilo o nosso coração” (1Jo 3, 18-19). Este amor que impele, que leva a agir em favor daquele que necessita, tem uma origem: “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4, 19). É a partir deste amor que o homem descobre a sua vocação, renova-se, e deseja a construção do Reino. De acordo com o Compêndio de Doutrina Social da Igreja: “ao descobrir-se amado por Deus, o homem compreende a própria dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Feitos novos pelo amor de Deus, os homens são capacitados a transformar as regras e a qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais” (n. 4).
É este chamamento que tem feito com que os homens de todos os tempos, enamorados por Cristo, se dedicassem a tão boas e santas realizações. É Ele e a sua mensagem o fundamento da Doutrina Social da Igreja. Domènec Melè não hesitará em enumerar como fontes inspiradoras a Sagrada Escritura e a Tradição, o Magistério da Igreja, além da interpretação dos sinais dos tempos,[1] munidos das Escrituras. Hervé Carrier distingue aquilo que a Doutrina Social da Igreja é, daquilo que ela não é. Assim, ele afirma que a “sua perspetiva específica é essencialmente a da teologia moral aplicada aos problemas sociais”[2] e salienta a importância de se ter esta noção bem assente e clara, pois isto excluiria a Doutrina Social da Igreja daquilo que ela não é. Ao aplicar-se esta teologia, conforme o falecido reitor emérito do Angelicum, especialista na questão social, responder-se-ia às questões éticas da sociedade, devendo oferecer soluções e orientações para os anseios e problemas do homem de todos os tempos e defender a sua dignidade[3].
Bento XVI lembra ainda na Caritas in Veritate os múltiplos âmbitos e a interdisciplinaridade da Doutrina Social da Igreja, podendo desempenhar “uma função de extraordinária eficácia”, pois “permite à fé, à teologia, à metafísica e às ciências encontrarem o próprio lugar no âmbito de uma colaboração ao serviço do homem” (n. 31).
P. José Victorino de Andrade
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[1] MELÉ, Domènec. Cristianos en la sociedad: Introducción a la Doctrina Social de la Iglesia. 3a. ed. Madrid: Rialp, 2000. p. 30-32.
[2] “Su perspectiva específica es esencialmente la de la teología moral aplicada a los problemas sociales. Esta clarificación es muy importante: en primer lugar ella nos indica lo que no es esta doctrina […]”. CARRIER, Hervé. El nuevo enfoque de la Doctrina Social de la Iglesia. Vaticano: Poliglota Vaticana, 1989. p. 8.
[3] Ibíd., p. 9.
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