“Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 48). Para São Tomás de Aquino, a proposta feita na sequência do Sermão das Bem-Aventuranças jamais poderia ser prescrita ao homem se não fosse possível.1 Chegar à perfeição nesta vida consiste, para Santo Agostinho, na ausência dos desejos desordenados que se opõem à caridade. O Aquinate acrescenta a esta doutrina tudo quanto possa impedir que o afeto da mente dirija-se totalmente a Deus, sem o que não poderá haver caridade, que é a perfeição da vida cristã.2 O Catecismo da Igreja Católica aclara esta questão:
O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade. Esta é o ‘vínculo da perfeição’ (Cl 3,14) e a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o termo da sua prática cristã. A caridade assegura e purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino (1827).
Embora alguns autores prefiram distinguir o convite à perfeição da vocação à santidade, os termos interpenetram-se na medida em que a perfeição pode e deve ser um notável caminho para a santificação.3 De acordo com São Paulo (Cl 1, 28), é a perfeição em Cristo que os homens devem almejar para apresentarem-se diante de Deus. O próprio Concílio recordou que “todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40), ou seja, à santidade.4
Desde o Antigo Testamento que a aliança estabelecida por Deus com os homens trouxe um forte apelo à santidade. Mais do que a perfeição nos ritos,5 este convite abrangia as várias dimensões morais. Por exemplo, quando o Senhor se revela avesso ao culto prestado por aqueles cuja malícia está no coração, exortando a uma purificação dos sentimentos que deveriam estar orientados para a caridade e a justiça (Is 1, 15-17). Através de uma vida coerente com a Lei e o culto, Deus, só Ele Santo, deseja comunicar a santidade ao povo que cumpre as Suas exigências e formar uma nação santa (Ex 19,6). São Pedro recordará este chamado à santidade (1Pe 1, 15-16) dotando-o de uma nova perspetiva, iluminada pela Redenção, exortando assim a uma peregrinação terrena configurada com Cristo e conformada ao seu caráter soteriológico e querigmático.
Pe. José Victorino de Andrade
in: Revista Lumen Veritatis (Editorial). São Paulo: ACAE. n.8, jul-set 2009, p. 3-5.
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1 Cf. Sum. Theol. II-II Q. 184, a. 2.
2 Loc cit.
3 Ver a este respeito NETTO DE OLIVEIRA, José. Perfeição ou Santidade e outros textos espirituais. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2002
4 Ver o Catítulo V da Constituição Dogmática Lumen Gentium: A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA
5 Ver Ex 22, 30; Lv 11, 44; 19, 2.
Republicou isto em A minha experiência Cristã em Jesus e em Maria.
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