Podemos duvidar de muitas coisas, porém, como colocar em causa o entusiasmo com que doze apóstolos espalharam uma doutrina pelo orbe? Duvidariam eles relativamente à doutrina que pregavam? Dificilmente, ou estaria gravemente comprometido o sucesso da sua evangelização, e a História comprova-nos o contrário… Diante de uma grande notícia, os homens têm uma enorme vontade de transmiti-la. Deparamo-nos com esta realidade ao constatar o esmagador uso de meios que permitem espalhar rápida e eficazmente alguma novidade: internet, redes sociais… Ora, quem, encontrando-se com algo que muda radicalmente a sua existência, alegrando-se por se deparar com uma novidade que o preenche e fundamenta, não gostaria de comunicá-la a todos? Assim acontece com o homem que tem uma profunda e decisora experiência de Deus: testemunha a alegria de um grande encontro, que o transforma, impele, entusiasma, no pleno sentido desta palavra (in Theos, em Deus).
É daqui que parte o espírito missionário e evangelizador, não como uma imposição que se faz aos povos. Conforme S. João Paulo II: “A missão não restringe a liberdade, pelo contrário, favorece-a. A Igreja propõe, não impõe nada: respeita as pessoas e as culturas, detendo-se diante do sacrário da consciência. Aos que se opõem com os mais diversos pretextos à atividade missionária, a Igreja repete: Abri as portas a Cristo! “.[1] O missionário apresenta-se como portador de uma verdade que “não se impõe de outro modo senão pela sua própria força”,[2] que não é a sua, mas do próprio Espírito, que os impele a dar de graça o que gratuitamente recebeu, numa dedicada entrega. Seja onde for que o cristão se apresente, “não pode deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação para todos os homens”.[3] Por outro lado, o mesmo Paráclito “abre e dispõe os corações para o acolhimento da verdade, segundo a conhecida afirmação de São Tomás de Aquino: ‘omne verum a quocumque dicatur a Spiritu Sanctu est’”.[4]
Como confiava o Papa Francisco dirigindo-se a seminaristas, noviços e noviças e jovens em caminhada vocacional, “a difusão do Evangelho não é assegurada pelo número das pessoas, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor”.[5]
Pe. José Victorino de Andrade
__________________________
[1] JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio: sobre a validade permanente do Mandato Missionário 1990, n. 39. Disponível em <www.vatican.va>.
[2] PAULO VI. Dignitatis humanae: sobre a liberdade religiosa, n. 1. Disponível em <www.vatican.va>.
[3]JOÃO PAULO II. Redemptoris missio. n. 11. Op. cit.
[4] Apud CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Nota Doutrinal sobre alguns aspectos da Evangelização. 3 dez. 2007. n. 4.
[5] FRANCISCO. Homilia na santa missa com os seminaristas, noviços, noviças e quantos estão em caminhada vocacional. 7 jul. 2013. Disponível em <www.vatican.va>.
Deixe uma Resposta