Da mesma forma que não convém à verdade ser mutável, a beleza também não deveria depender de preferências ou tendências. Se ambas fossem passíveis de volatilidade ou diversidade, não poderíamos adjetivar algo como belo ou verdadeiro, pois isto teria como medida os gostos e as opiniões contraditórias de cada um…
Submeter critérios de verdade e de beleza a divergências de carácter pessoal ou cronológico é próprio a uma cultura relativista com repercussões tanto no campo da ética como da estética. A beleza e a verdade são grandes demais para ficarem sujeitas ao individualismo e ao tempo.
Antes de existir o Homem, as coisas já eram belas e verdadeiras, fruto daquela bondade criadora, “luz de eterna formosura”, 1 que tudo criou do nada. E da mesma forma que o diálogo está chamado a identificar a verdade que o precede, a beleza poderá ser encontrada na criatividade e partilha de elementos estéticos, em busca da perfeição e do absoluto.
Gostos discutem-se, portanto, não a beleza e a verdade em si, mas as idealizações e argumentações que auxiliem os homens a identificá-las. A verdade e a beleza não podem ser regidas pela história e pelo tempo, pelos homens e pelas ideias dominantes, mas estes é que estão chamados a inclinarem-se diante da verdade e da beleza subsistentes e a procurarem-nas no seu tempo.
A verdade da beleza e a beleza da verdade têm a sua referência em Cristo, ao mesmo tempo Verdade (Jo 14, 6) e beleza que salva. 2 Ambas se impõem por si e não são passíveis de serem colocadas debaixo do alqueire (Mt 5, 15), e por isso, devem conduzir ao testemunho. Quem contempla e encontra Cristo, fato constitutivo do ser cristão, não pode senão comunicar esta experiência. A flecha da beleza que nos atinge tem a sua origem no mais belo entre os filhos dos homens (Sl 45, 3).3 Dele provém e para ele atrai.
Pe. José Victorino de Andrade
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1 Liturgia das horas
2 Quanto à beleza, encontra-se um excelente texto sobre o pensamento de Bento XVI em RATZINGER, Joseph. A Caminho de Jesus Cristo. Coimbra: Tenacitas, 2006.
3 Loc cit.
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