Preservar os fundamentos para bem da edificação

Ferragudo CasteloNão é estranho ao mundo de hoje a defesa de valores e tradições que convém conservar ou até mesmo resgatar para a preservação de uma identidade, cultura ou nação. A sociedade Ocidental, junto com os seus organismos e instituições, tem procurado que muitas minorias étnicas, religiosas, entre outras, possam ver garantidas a preservação de um património não só material, mas também imaterial, reconhecendo-as pela singularidade que as torna enriquecedoras do pluralismo e multiculturalismo da sociedade pós-moderna. O problema não está propriamente no encontro e partilha de diferentes realidades – afinal, uma cultura fechada acaba sempre por fenecer -, mas no desrespeito e esmagamento exercidos por aqueles que se julgam superiores. A interpenetração e a diplomacia entre os diferentes povos do nosso planeta nunca foram prejudiciais, quando garantidos o respeito mútuo e fraterno das diferentes e definidas posições de onde, aliás, parte o diálogo e a troca de experiências.

É o que acontece com a Igreja quando se incultura nos quatro cantos da terra, ali, onde o Espírito Santo sopra e leva corajosos anunciadores da Boa Nova. Como relembrou o Concílio Vaticano II, o mandato divino de levar o Evangelho a todas as culturas, não pretende tirar-lhes nada daquilo que lhes é próprio, mas enriquece-as, e se necessário, purifica-as. Assim nasceu o Ocidente cristão, tal como o conhecemos, cujos direitos humanos encontraram terreno fértil nas sociedades regadas pelo preciosíssimo sangue do Redentor, sob um sol de Justiça e Misericórdia, à sombra da Cruz. Colhem-se preciosos frutos de liberdade, solidariedade, dignidade, igualdade e respeito pela mulher, nessas mesmas terras onde o imigrante e o refugiado têm ultimamente procurado abrigo, sucesso e paz. Longe de atingirmos o ideal, sonhamos cada vez mais com uma sociedade organizada, forte, solidária… Entretanto, sabemos que a manutenção e até mesmo crescimento de qualquer estrutura está na solidez das suas bases, na profundidade e robustez das suas raízes. Fica extremamente abalada uma sociedade que ameaça os fundamentos que nos transmitiram uma ética amiga do homem enquanto imagem e semelhança de Deus, a valorização da vida e o respeito pela morte, uma educação integral sem exclusão do ensino religioso, a família, termómetro e base para a grande família dos homens e mulheres de todo o mundo. Afinal, seria incongruente e incoerente se o mundo Ocidental cristão procurasse através das suas instituições valorizar, revitalizar e preservar as tradições e culturas dos povos indígenas, minorias étnicas e povos ameaçados pelo terrorismo e pela guerra, e esquecesse de onde partiu a sua própria identidade.

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, alertou para estas “sociedades que querem construir sem Deus ou que destroem as suas raízes cristãs” (n. 86). Recentemente, no vídeo enviado ao Congresso Internacional de Munique “Juntos pela Europa”, e em mensagem ao 14.º Simpósio Intercristão que decorreu na Grécia, lamentou a progressiva perda dessas raízes e propôs um retorno a elas, incentivando os evangelizadores a anunciar Cristo de modo inovador, criativo e com uma linguagem apropriada. É um desafio lançado ao anunciador, a todo aquele que foi batizado: interpretando os sinais dos tempos, munido das escrituras e favorecendo o seu alegre anúncio, sem abdicar do carácter profético do qual foi revestido junto com a veste batismal, refrescar a consciência e a memória de muitos com a verdade da Fé em Cristo, raiz e fundamento de um reino em permanente edificação, definitivo no Céu.

Pe. José Victorino de Andrade

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