Conforme São João Paulo II “o mundo está cheio de convites ao progresso. Ninguém quer ser ‘não progressista’. Trata-se, todavia, de saber em que consiste o verdadeiro progresso”.1 É um perigo considerar o progresso de modo isolado, sem um acompanhamento daqueles valores essenciais que devem interrogar continuamente o homem quanto à possibilidade de estar diante de um verdadeiro progresso, no qual a pessoa humana é enriquecida e valorizada, ou de um falso progresso, onde muitas vezes é colocado em risco o meio ambiente, a segurança, a vida e a paz, aumentando a impressão da possibilidade progressiva de autodestruirmo-nos.
Conforme o filósofo espanhol Ferrater Mora, o progresso pode considerar-se como um processo ou evolução, porém, onde se incorporam os valores.2 Estes são fundamentais para um saudável e sustentável progresso, sem o qual, correr-se-ia o risco de desmoronamento da frágil sociedade privada de valores como se estivesse desprovida de alicerces, longe de estar edificada sobre solo firme. E que solo mais firme haveria do que a “rocha de Pedro”? De facto, ao longo da história, a Igreja preocupou-se com um pleno desenvolvimento, do homem todo e de todos os homens, vigiando continuamente o tempo, munida das escrituras, a fim de servir-se da Palavra de Deus que interpela os Homem de todos os tempos. Assim, a Igreja, “vivendo na história, deve estar atenta aos sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho. Comungando das melhores aspirações dos homens e sofrendo por vê-los insatisfeitos, deseja ajudá-los a alcançar o pleno desenvolvimento e, para isso, propõe-lhes o que possui como próprio: uma visão global do homem e da humanidade (Populorum Progressio, n. 13).
Certa superficial consideração leva a crer que a Igreja é contra o progresso. Tal seria, pois, enquanto tal e na verdadeira aceção da palavra, é uma coisa boa. Afinal, quem é que não o deseja? O que a Igreja pretende, tem escrito e alertado nas suas Encíclicas Sociais, é a necessidade de uma ética, amiga do Homem, que acompanhe os acontecimentos e o progredir da civilização, para ser autêntica e verdadeiramente um progresso para todos os povos. A este respeito, escreveu o então Cardeal Montini, no seu último livro, antes do Conclave o eleger Papa, Paulo VI: “A cristandade não é um obstáculo ao progresso moderno porque não o considera apenas nos seus aspetos técnicos e econômicos, mas no total de seu desenvolvimento. Os bens temporais poderão certamente ajudar o completo desenvolvimento do homem, mas eles não constituem o ideal da perfeição humana ou a essência do progresso social”.3
Pe. José Victorino de Andrade
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1 JOÃO PAULO II. Visita pastoral à paróquia romana de São Clemente. Domingo, 2 de Dezembro de 1979. in: <www.vatican.va>.
2 FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Tradução de António José Massano e Manuel Palmeirim. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1978. p. 231.
3 MONTINI, Giovanni Battista. The Christian in the Material World. Baltimore: Helicon, 1964. (tradução minha).
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