Pio XII, em alocução aos participantes do II Congresso Mundial para o Apostolado secular, exortou os leigos a uma missão que lhes é própria: a “consecratio mundi“, expressão que vários teólogos e Pontífices que a ele sucederam, viriam a empregar[1]. Esta, vamos assim chamar-lhe, sacralização do mundo, envolve que a esfera espiritual anime de tal forma as realidades temporais que as impregne de espírito cristão, conforme exortava Paulo VI na Populorum Progressio: “os leigos devem assumir como tarefa própria a renovação da ordem temporal. Se o papel da hierarquia consiste em ensinar e interpretar autenticamente os princípios morais que se hão de seguir neste domínio, pertence aos leigos, pelas suas livres iniciativas e sem esperar passivamente ordens e diretrizes, imbuir de espírito cristão a mentalidade e os costumes, as leis e as estruturas da sua comunidade de vida” (n. 81).
Os tempos modernos exigem cada vez mais que os fiéis membros da Igreja se tornem, com fidelidade e filialidade, testemunho e sinal da presença cristã em todos os campos da sociedade humana. E apesar de insuficientes para os nossos dias, não faltam fiéis que se dediquem, ainda que parcialmente, à difusão dos perenes valores do Evangelho e que desejam levedar a sociedade, ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14; Mc 9, 50 Lc 14, 34), sem os quais a sociedade deixar-se-ia talvez envolver pela irreligiosidade. É fundamental que a oração e a prática religiosa sejam valorizadas, transbordando o amor ao próximo da primazia dada a Deus, pois para sacralizar é preciso revestir-se de sacralidade.
O primado do espiritual e a penetração deste nos aspetos temporais deve verificar-se na importante ação e apostolado dos católicos e estar permanentemente diante dos olhos daqueles que exercem qualquer trabalho ou ministério no redil de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só assim os ramos estarão alimentados pela verdadeira vide que é Ele, darão frutos abundantes, e n’Ele poderão realizar maravilhas (Jo 15, 1-8; Is 5, 1-7; Os 10, 1; Sl 80, 15-20). E assim servir de exemplo para a sociedade Temporal, tornando-se como “fermento na massa”.
Pe. José Victorino de Andrade
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[1] “L’espressione ‘consecratio mundi’ fu utilizzata da Pio XII per designare la missione propria dei laici; Cf. Pio XII, Discorso al II Congresso Mondiale dell’apostolato secolare, AAS 49 (1957). p. 927. Da allora ebbe grande fortuna tra i teologi”. MAZZOTTI, Stefano. La libertà dei fedeli laici nelle realtà temporali. Roma: Università Gregoriana, 2007. p. 58. Também João Paulo I, no seu curto pontificado, referiu-se à importância dos vários movimentos, em especial leigos, na sua oferta pela vivificação da sociedade e para a consecratio mundi, “a qual é fermento na massa” (Cf. Mt 13, 33). Cf. Primeira Radiomensagem do Papa João Paulo I. Domingo, 27 de Agosto de 1978. In: DOCUMENTOS DE JOÃO PAULO I. Coord. e trad. Darci L. Marin. São Paulo: Paulus, 2005. p. 22. O Papa João Paulo II também usou esta expressão algumas vezes, entre elas ao episcopado brasileiro, no dia 26 de Outubro de 2002. Ver AAS 95 (2003). p. 192.
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