A Igreja contém em si a dinâmica de um povo a caminho, que deseja o Reino e edificá-lo concreta e historicamente, “na esperança da glória de Deus” (Rm 5, 2). Na intervenção pública, os cristãos leigos têm uma grande importância e deveriam dar-se conta do número e da força que possuem. São um grupo eleitoral respeitável capaz de influenciar os destinos de uma nação e ter voz ativa no atual pluralismo para denunciar políticas que se afastam da lei de Deus e desrespeitam a dignidade humana, e promover na sociedade “a ordem pública e a paz, a liberdade e a igualdade, o respeito pela vida humana e pelo meio ambiente, a justiça, a solidariedade, etc.” (AAS 96 [2004], p. 360)[1].
Assim, os fiéis leigos deverão empenhar-se em levar as exigências do Evangelho e a sua repercussão social onde quer que seja, muitas vezes onde não compete aos clérigos intrometerem-se. Necessitam para isso de uma sólida formação e conhecimento da Doutrina Social da Igreja, deixando-se guiar por ela a fim de obrar “pela justiça social, pela defesa da vida e da família, pela liberdade religiosa e de educação” (AAS 103 [2011], p. 475)[2]. Os clérigos não podem negligenciar a conveniente formação que tantos leigos sedentos de um mundo mais justo e solidário precisam receber. Não lhes compete fazer política ou assumir qualquer cor partidária, mas formar bons cidadãos e fornecer critérios para os fiéis orientarem-se nas suas opções, de modo a optarem por programas que apoiem a vida, a família, a promoção da justiça social, a liberdade, etc. Ou seja, formar homens e mulheres capazes de agir coerentemente com a Fé e a reta razão.
A Gaudium et Spes explica que compete aos bispos e aos sacerdotes a pregação e o ensino para que os fiéis, de consciência bem formada, possam agir nas suas atividades temporais iluminados pelo Evangelho e influenciar positivamente na sociedade imbuindo “o mundo com o espírito cristão” (AAS 58 [1966], p. 1063)[3]. Os cristãos leigos, ou mesmo as outras religiões podem e devem manifestar as suas convicções publicamente no atual pluralismo, sem temer qualquer represália ou acusação de proselitismo, intolerância ou descriminação. A Igreja precisa fazê-lo com a razão e com a ética. Ela está de olhos postos no futuro, e traz consigo a experiência do passado, a sempre nova anciã perscruta os sinais dos tempos munida das Escrituras, imperturbável pelos primeiros ventos de novidade. E hoje, mais do que nunca, os fiéis leigos têm um papel importantíssimo para agir em consequência…
Presentes em formações, conferências ou debates, procurem os cristãos pronunciar-se e interagir através do diálogo, aproveitando as condições criadas pela democracia e pela laicidade, criando espaços para a intervenção do cristianismo em matérias tais como o aborto, a eutanásia ou a bioética, entre outros… “Com forte determinação, mas também com humildade, os cristãos têm o direito de exprimir publicamente as suas convicções de modo a propô-las e vê-las recebidas sem preconceitos no debate”[4].
Pe. José Victorino de Andrade
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[1] “[Il bene comune] comprende la promozione e la difesa di beni, quali l’ordine pubblico e la pace, la libertà e l’uguaglianza, il rispetto della vita umana e dell’ambiente, la giustizia, la solidarietà, ecc” (tradução minha). Ratzinger (2004)
[2] “[I Christifideles laici…] guidati dai principi della Dottrina sociale della Chiesa, per una autentica laicità, per la giustizia sociale, per la difesa della vita e della famiglia, per la libertà religiosa e di educazione” (tradução minha).
[3] “Laici vero, qui in tota vita Ecclesiae actuosas partes gerendas habent, non solum’ mundum spiritu christiano imbuere tenentur, sed etiam ad hoc vocantur ut in omnibus, in media quidem humana consortione, Christi sint testes” (n. 43. Tradução minha).
[4] “[…] Con forte determinazione, ma anche con umiltà, i cristiani hanno il diritto di esprimere pubblicamente le loro convinzioni in merito, di proporle e di vederle recepite senza preconcetti nel dibattito. BIANCHI, Enzo. La differenza cristiana: La laicità come spazio ético. Torino: Einaudi, 2006. p. 14 (tradução minha).
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