Em conferências quaresmais no ano de 1981, o então arcebispo de Munique, Joseph Ratzinger teceu belas considerações, cuja tradução partilho:
Cristo converte-se num novo Adão com o qual o ser humano começa novamente. Ele que, desde o fundamento, é o nosso ponto de referência, o filho, restabelece de novo as relações. Os seus braços estendidos são a referência aberta, que continua aberta para nós. A cruz, o lugar da sua obediência, converte-se na verdadeira árvore da vida. Cristo converte-se na imagem oposta da serpente como diz João no seu Evangelho (Jo 3, 14).
Desta árvore vem, não a palavra da tentação, mas a palavra do amor salvador, a palavra da obediência, na qual Deus se fez obediente para oferecer-nos a sua obediência como espaço de liberdade. A cruz é a árvore da vida novamente acessível. Com a Paixão, Cristo fez obedecer o som, por assim dizer, inflamado da espada, atravessou o fogo e levantou a cruz como o verdadeiro eixo do universo sobre o qual este ficou ordenado de novo . Por isso, a Eucaristia, como presença da cruz, é a verdadeira árvore da vida que está sempre no nosso centro e convida-nos a receber o fruto da verdadeira vida. Isto significa que a Eucaristia nunca poderá ser uma simples purificação comunitária. Recebê-la, comer da árvore da vida significa, por isso, receber o Senhor Crucificado, isto é, aceitar a sua forma de vida, a sua obediência, o seu Sim, à medida do nosso ser criatura. Significa aceitar o amor de Deus que é a nossa verdade, aquela dependência de Deus que não significa para nós uma determinação estranha, e tão pouco para o filho é a filiação uma resolução estranha. Precisamente esta dependência é liberdade porque é Verdade e Amor.
Que este tempo ajude-nos a sair das nossas negativas, do receio da aliança de Deus, da falta de medidas e da mentira da nossa “auto-determinação”, para ir em busca da árvore da vida que é a nossa medida e a nossa esperança.
E que nos encontremos de novo com as palavras completas de Jesus: o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no evangelho (Mc 1, 15).
Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo o homem que n’Ele crer tenha a vida eterna (Jo 3, 14 -15)
(RATZINGER, Joseph. Creación y pecado. (Navarra): Ediciones Universidad de Navarra, 2005.p. 103-104 ).
Deixe uma Resposta