Como ser saudável e belo

Não foi há tanto tempo que as nossas avós repetiam que “gordura é formusura”, sempre contentes por verem todos à sua volta comerem à vontade… Em pouco tempo, aqueles mesmos netos e talvez bisnetos, resolveram virar a mesa, em todos os sentidos! Hoje, a valorização de uma estética humana de padrões esquálidos e deificados quais estátuas do Olimpo ainda mais lapidadas, imposta tiranicamente, é capaz de levar a toda a espécie de sacrifícios físicos e de regimes alimentares que causam aversão enquanto penitência e mortificação, próprias a uma necessidade espiritual ou a um determinado período litúrgico, mas valorizadas e até levadas a extremos para se chegar a um determinado padrão estético, sobretudo quando chega o tempo da praia… A reivindicação de uma determinada aparência conotada como “bela” leva a atitudes perigosas. E casos extremos como a anorexia deixaram mesmo de ser estranhos aos nossos ouvidos e continuam perplexitantes aos nossos olhos.

Conhecemos outros fenómenos contraditórios que também não valorizam uma vida saudável, temperante, mas a insaciável satisfação dos sentidos. Entre eles quem não come para viver, mas vive para comer (e beber). Gente capaz de ir a Fátima para encher a pança e não a alma. Embora a alimentação esteja porventura entre os prazeres mais inocentes da imoderação humana. A legítima procura de felicidade e de bem-estar leva muitos a enredarem-se nas teias do vício e a vidas desenfreadas de falsos e efémeros prazeres. O corpo parece nunca se saciar, reflexo da insaciabilidade da alma enquanto não repousa em Deus. Só n’Ele o Homem encontra a alegria e a paz. São João Paulo II alertou especialmente os jovens para esse

período maravilhoso e delicado, em que a vossa realidade biopsíquica cresce até à maturação perfeita para serdes capazes, física e espiritualmente, de enfrentar as alternativas da vida nas suas mais desvairadas exigências. Temperante é aquele que não abusa dos alimentos, das bebidas e dos prazeres; que não toma desmedidamente bebidas alcoólicas; que não se priva da consciência mediante uso de estupefacientes ou drogas. Em nós podemos imaginar um “eu inferior” e um “eu superior”. No nosso “eu inferior” exprime-se o nosso “corpo” com as suas carências, os seus desejos, as suas paixões de natureza sensível. A virtude da temperança garante a cada homem o domínio do “eu superior” sobre o do “inferior”. Trata-se, talvez, neste caso, de humilhação, de diminuição para o nosso corpo? Pelo contrário! Esse domínio valoriza-o, exalta-o.

Refleti bem nisto, vós jovens, que estais precisamente na idade em que tanto se estima ser belo ou bela para agradar aos outros! Um jovem e uma jovem devem ser belos primeiramente e sobretudo interiormente. Sem tal beleza interior, todos os outros esforços que só tenham o corpo por objeto não farão – nem dum jovem nem duma jovem – uma pessoa verdadeiramente bela.[1]

Hoje, a alma virtuosa e temperante como fator até de beleza e de atração, ficou relegada a um segundo plano, reflexo de uma superficialidade que não olha para o conteúdo e para as coisas em profundidade, deixando a inteligência ser manipulada e a sensibilidade como rainha e senhora do nosso ser. Vive-se então como um escravo das paixões, e isto influencia o próprio organismo. Bastaria observar um pouco a degradação e a fragilidade daqueles que vivem na luxuria ou em qualquer vício, com notório envelhecimento precoce e enrudecimento comportamental. Qualquer beleza, perde-se. Mas uma alma temperante e que procura a santidade proporciona à pessoa uma beleza que vem do interior e que se reflete física e temperamentalmente. Como em tantas coisas a virtude está no meio… e sempre em Deus.

Pe. José Victorino de Andrade

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[1] João Paulo II. Encontro com os Jovens na Basílica Vaticana. 22 de Novembro de 1978

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