A Igreja, historicamente, adaptou-se a qualquer regime, a não ser que estivessem comprometidos direitos fundamentais e universais ou princípios evangélicos. Para tal, fez uso de vozes proféticas, religiosas ou laicas, dispostas ao martírio se necessário, contra aqueles regimes totalitários que ferem o bem integral da pessoa e a liberdade religiosa. Tornou-se uma garantia fiável e incómoda para impedir que determinadas escolhas humanas, autoridades proclamadas e formas de poder não degenerem em tirania ou estruturas de corrupção e de pecado. Ademais, não exige apoio exclusivo, dentro do pluralismo religioso, mas que o poder público reconheça e dê a devida liberdade e o justo apoio ao seu trabalho no cumprimento da missão que lhe foi confiada por Cristo, fundamental para um desenvolvimento íntegro, total, pleno. Conta para tal com uma história que lhe permite aprender com o passado e edificar um futuro enraizado na experiência, a fim de não repetir insucessos e escândalos e desenvolver projetos sociais e religiosos de vanguarda.
Na verdade, os poderes públicos são voláteis e cambiantes, enquanto a Igreja permanece, uma vez fiel à Revelação e ao magistério de Pedro, hoje, o Papa Francisco. Talvez não haja uma voz tão forte internacionalmente para se opor aos totalitarismos e às injustiças humanas, que conta ademais com a via diplomática na relação com os demais países, uma vez que a Igreja Católica possui um Estado, relações internacionais e acordos entre os países, sendo hoje a única religião capaz de reunir tais condições para, através da via do diálogo e das relações entre nações soberanas e a troca de bons ofícios, encontrar soluções conjuntas e medidas coerentes para construir a paz e a fraternidade entre os povos. Conta com uma enorme multidão de filhos, muitos deles obedientes e zelosos, vigilantes e laboriosos, caritativos e orantes, mas todos pecadores, que entendem enquanto tal esta humanidade igualmente frágil e contingente. Nesse aspeto, está em igualdade com todos, mas conta com instrumentos mais eficazes, capazes de transformar os homens e a humanidade. É a totalidade dos homens que lhe interessa, o homem todo e todos os homens. Ainda que um Estado adotasse medidas sociais positivas, não teria capacidade de impulsioná-las para outras realidades, países ou continentes. Torna-se necessário um órgão internacional. Mesmo as ONGs não possuem meios humanos ou infraestrutura para uma tal presença pelo orbe, como possui a Igreja.
Onde quer que a Igreja se encontre, Ela possui uma só doutrina social norteadora da ação dos seus membros, e um amor a todo o próximo, impulsionado pelo amor a Deus, que a fortalece nos mais adversos cenários, levando os seus membros a uma dedicação integral, por vezes, ao martírio. Tal entrega ou unicidade de pensamento e de ação não se encontra nas realidades temporais. A Igreja está presente em todos os domínios da vida concreta dos homens, da sua saúde física à espiritual, fornecendo-lhe alimento para o corpo e a alma, dessedentando-o com o elemento líquido que desce do céu e a água viva que vem de Deus, revestindo os pobres na sua dignidade e na necessidade, recebendo os órfãos no seio de uma família carnal e celestial… Eis a Igreja, à qual Estado algum jamais poderá substituir, pois ainda que este garanta uma sociedade terrena, materialmente ordenada e próspera, não tem capacidade para garantir os bens espirituais nem a Jerusalém Celeste, a vida eterna, a Igreja triunfante. Os poderes temporais permanecerão enquanto tal, sujeitos aos lucros, voláteis aos tempos e aos interesses, às políticas e às manipulações ideológicas. Quem, senão a Igreja, poderá sem utopias e falsas ideologias propor um novo céu e uma nova terra (Ap 21, 1)?
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