O cristão comprometido deve procurar uma vida conformada com Cristo, nesta peregrinação terrena (1Pe 1, 15-16), e voltar-se para a caridade e para a justiça (1, 15-17). Deus, só Ele Santo, deseja comunicar a santidade àqueles que cumprem as Suas exigências a fim de formar uma nação santa (Ex 19,6). A santidade, Vocação Universal de todos os homens (Cap. V Lumen Gentium), deverá constituir uma opção fundamental de vida cristã de modo a que o cristão rejeite aquilo que é contrário a Deus. Consequentemente e coerentemente, o testemunho de uma vida santa não deve estar ausente da vida em sociedade e dos compromissos políticos, mas influenciar positivamente governos e povos. O problema com a falta de interesse nas questões políticas que cerceiam os nossos dias deve-se muitas vezes à falta de bons exemplos, seja de pessoas ou grupos, acrescendo-se a isto questões relativas a certa inversão de valores, ou falta de perceção dos mesmos.[1] Mas existe também algum receio, e da parte de extremismos anticlericais certo ostracismo. A democracia constitui uma excelente resposta. E ela exige a participação ativa de todos, não de específicos ativistas.
A Gaudium et Spes já fazia um apelo a que os cristãos não descurassem a vida pública, pedindo-lhes a sua participação ativa, aproveitando o sufrágio para a responsável escolha dos seus líderes, e que fizessem respeitar os limites dos governos de modo a não extravasarem as suas competências e sufocarem a subsidiaridade. O Compêndio de Doutrina Social da Igreja nota que a Igreja não vê com maus olhos a democracia, onde todos os homens e mulheres têm participação e corresponsabilidade. Vê na caridade o elemento que ilumina os católicos a fim de conviverem com a política, procurando a justiça e a edificação do bem comum. E esse é um generoso aporte à sociedade temporal. Não se pode formar uma vaga e difusa ideia que a participação política oferece riscos, o que leva certas ideologias extremistas a inserirem-se nela ativamente enquanto os cristãos simplesmente assistem à distância a disputas e filosofias políticas tantas vezes comprometedoras para os valores e a sua identidade. Aos cristão é dada autonomia, responsabilidade e meios, uma vez que a Igreja não está propriamente desprovida de uma doutrina que colabore e dialogue com o poder político, tornando realizável e possível um mundo mais justo e fraterno no âmbito de uma sadia laicidade. Para Bento XVI:
“O encargo imediato do agir no âmbito político para construir uma justa ordem na sociedade não é da Igreja enquanto tal, mas dos fiéis leigos, que operam como cidadãos sobre a própria responsabilidade: trata-se de uma responsabilidade da maior importância, à qual os cristãos leigos […] estão chamados a dedicar-se com generosidade e com coragem, iluminados pela fé e pelo magistério da Igreja e animados pela caridade de Cristo” (Insegnamenti, II, 2 [2007], p. 475).[2]
P. José Victorino de Andrade
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[1] COLOM, Enrique. Etica politica e cultura democratica. In: A. Rodríguez Luño – E. Colom (cur.). Teologia ed etica politica. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana. p. 79-112. 2005.
[2] “Il compito immediato di agire in ambito politico per costruire un giusto ordine nella società non è dunque della Chiesa come tale, ma dei fedeli laici, che operano come cittadini sotto propria responsabilità: si tratta di un compito della più grande importanza, al quale i cristiani laici […] sono chiamati a dedicarsi con generosità e con coraggio, illuminati dalla fede e dal magistero della Chiesa e animati dalla carità di Cristo” (tradução minha).
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