Poderá a Igreja intervir em questões políticas?

A justa autonomia da Igreja relativamente aos poderes públicos não lhe tira legitimidade para criticar certas decisões políticas, sobretudo quando estão em causa questões morais ou relativas à transcendente dignidade do ser humano. “A Igreja não é um poder político ou um partido”.1 Não é oposição partidária nem pretende ser uma nova via, alternativa à política. A Igreja visa oferecer a sua “concepção ideal de democracia, carregada de valores substanciais que podem realizar-se democraticamente, e uma concepção do bem comum”.2

Os membros da Igreja podem e devem tomar parte na democracia e contribuir, doutrinária e concretamente, para a edificação da uma sadia laicidade. Intervenção construtiva. Não se trata de fazer política, mas de uma concepção ideal de democracia derivada da Doutrina Social da Igreja.3 D. José Policarpo defendeu que a Igreja tem o direito de intervir na política, sobretudo quando estão em causa questões morais, tal como precisa do diálogo, do apelo, para que se encontrem as melhores soluções para as necessidades sociais e as fragilidades éticas. Uma intervenção de diálogo e de presença nas delicadas questões que colocam em causa a vida, a família ou a dignidade humana.4

Conforme explica Baget Bozzo, a voz dos bispos soma-se à do Papa, pois ele “deixa às conferências episcopais o direito e o dever de intervir sobre […] temas políticos atinentes à ordem da justiça social ou dos direitos humanos”.5

Pe. José Victorino de Andrade

Elementos extraídos e adaptados de: Aportes da Igreja à construção de uma sã laicidade. Tese de doutorado em Teologia. Medellín: Universidade Pontifícia Bolivariana, 2013. p. 195-197.

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1. Explicava Bento XVI a caminho do México e de Cuba em 2012: “La Chiesa non è un potere politico, non è un partito, ma è una realtà morale, un potere morale”.

2 “[…] su concepción ideal de la democracia, cargada de valores sustanciales que pueden realizarse democráticamente, y una concepción del bien común” (Rhonheimer, Martin. Cristianismo y laicidad: historia y actualidad de una realidad compleja. Madrid: Rialp, 2009. p. 103. Tradução minha).

3 Idem.

4 Policarpo, José. (2011a). Igreja tem “direito de intervir” na política, 14 mar 2011. Recuperado de <www.rr.pt>.

5 “Il Papa lascia alle conferenze episcopali il diritto e il dovere di intervenire su […] temi politici attinenti all’ordine della giustizia sociale o dei diritti umani” Quagliariello, G., et all. Alla ricerca di una sana laicità: Libertà e centralità dell’uomo. Siena: Cantagalli, 2007, p. 65. Tradução minha).