Deus manifesta-se na obra da criação. São Paulo escreveu aos Romanos: “Com efeito, o que é invisível nele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras” (Rm 1, 20). De acordo com São Tomás de Aquino, existem vestígios da Trindade nas criaturas, pois de alguma forma o efeito remete para a sua causa, para o criador, mas é nas criaturas dotadas de razão que se encontra uma imagem da Trindade, ou seja, no homem, na medida em que se encontra nele uma palavra que é concebida e um amor que procede[1]. As criaturas são caminhos para chegar a Deus, conforme o Catecismo da Igreja Católica:
- O mundo: A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode chegar-se ao conhecimento de Deus: como origem e fim do universo. […]
- O homem: Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu sentido do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua ânsia de infinito e de felicidade, o homem interroga-se sobre a existência de Deus. Nestas aberturas, ele detecta sinais da sua alma espiritual. […] só em Deus pode ter origem.*
Além da perfeição e da bondade com que Deus se manifesta na obra das suas mãos, coube ao homem, criado à sua imagem cooperar com o Criador no aperfeiçoamento da criação e imprimir, por sua vez, na terra, o cunho espiritual que ele próprio recebeu, conforme explica Paulo VI na Populorum Progressio: “Deus, que dotou o homem de inteligência, de imaginação e de sensibilidade, deu-lhe assim o meio para completar, de certo modo, a sua obra: ou seja artista ou artífice, empreendedor, operário ou camponês, todo o trabalhador é um criador”. (n. 27).
Os homens, ao longo dos tempos, fizeram maravilhas. Saíram das suas mãos obras de arte esplendorosas, músicas, pinturas, esculturas, edifícios públicos, administrativos e religiosos, jardins e campos… Encontram-se um pouco por todo o mundo feitos de grande valor histórico, cultural e artístico que se inspiraram em valores metafísicos e que deslumbram quem os contempla. São João Paulo II aconselhou certa vez:
“Vós, sobretudo, homens e mulheres da cultura, da arte e da política, senti a religião como a vossa aliada. Ela encontra-se ao vosso lado para oferecer aos jovens sérios motivos de compromisso. De facto, que ideal está em condições de mobilizar para a procura da verdade, da beleza e do bem do credo em Deus, que abre a mente aos horizontes incomensuráveis da Sua suma perfeição?”[2].
Vemos assim que a Igreja tem algo a dizer a esta sociedade, que a religião abre novas fronteiras e visualizações, sobretudo quando os homens decidem cooperar com a voz da Graça, o que faz lembrar inclusive o famoso discurso do saudoso Pontífice no início do seu Pontificado, convidando a que todos os homens, sem qualquer temor, abrissem, antes, escancarassem as portas a Cristo.
Pe. José Victorino de Andrade
In: Aportes da Igreja para um autêntico Progresso. Medellín: UPB -Tese de Mestrado (Adaptado). p. 112-114.
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[1] Cf. S. Th. I-I, q. 45, a. 7. resp.
* Ver Capítulo I. 2 – Os caminhos de acesso ao conhecimento de Deus, n. 32-33.
[2] “In questo, voi soprattutto uomini e donne della cultura, dell’arte e della politica, sentite la religione come vostra alleata. Essa è al vostro fianco per offrire ai giovani serie ragioni d’impegno. Quale ideale, infatti, è in grado di mobilitare alla ricerca della verità, della bellezza, del bene più della credenza in Dio, che spalanca davanti alla mente gli orizzonti smisurati della sua somma perfezione?” (JOÃO PAULO II. Viagem Apostólica ao Azerbaijão e à Bulgária. Baku, 22 de Maio de 2002. 22/05/2002. In: Insegnamenti. Vaticano: Editrice Vaticana, 2004. Vol. XXV, 1. p. 847. Tradução minha).
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