Por vezes, pode haver na Igreja a tentação de entrar numa tal vida prática e concreta, nos complicados e múltiplos meandros dos atuais desafios exigidos ao evangelizador, que a oração e a prática religiosa acabam relegadas ao parco espaço que sobra de um tempo que foge irreparavelmente. Entretanto, o testemunho e a missão devem sempre partir de uma experiência e da primazia dada a Deus e à Sua Graça. A caridade e a consequente ação social tem a sua origem num amor que transborda e que se coloca ao serviço, e não da ação pela ação, pela visibilidade ou prestígio, limitadas filantropias ou uma qualquer conjugação de interesses particulares. De acordo com a Carta para o novo e atual Milénio proposta por S. João Paulo II, esta mentalidade naturalista e interesseira pode insidiar qualquer caminho espiritual e também a ação pastoral quando se trata de…
pensar que os resultados dependem da nossa capacidade de agir e programar. É certo que Deus nos pede uma real colaboração com a sua graça, convidando-nos por conseguinte a investir, no serviço pela causa do Reino, todos os nossos recursos de inteligência e de ação; mas ai de nós, se esquecermos que, ‘sem Cristo, nada podemos fazer’ (cf. Jo 15,5). É a oração que nos faz viver nesta verdade, recordando-nos constantemente o primado de Cristo e, consequentemente, o primado da vida interior e da santidade. Quando não se respeita este primado, não há que maravilhar-se se os projetos pastorais se destinam ao falimento e deixam na alma um deprimente sentido de frustração (NMI 38).
Portanto, este primado e fidelidade à graça de Deus deve incentivar e impulsionar toda e qualquer ação da Igreja e estar permanentemente presente naqueles que exercem qualquer ministério no redil de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só assim os ramos estarão alimentados pela verdadeira vide que é Ele, e darão frutos abundantes. E o cristão estará para a sociedade Temporal como “fermento na massa”.
Pe. José Victorino de Andrade
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